Quando vi o trailer
desse filme (em meio a confusão de organização de slides e leituras), pensei “caraca,
que filme legal, acho que é um daqueles ‘Road Movie’” e eu, como
pseudo-viajante amo filmes assim; pensei logo de cara que seria super
interessante assistir. E, como o filme envolve muita música também, pensei em
convidar um amigo que gosta muito de cinema, gosta muito de música e para minha
sorte e felicidade está em Belém. Mandei a seguinte mensagem (mais ou menos
assim) “xxxxxxxx, vamos ao cinema? Tá passando um filme que acho que é tua cara,
acho que vais gostar” Claro que eu falava sobre a música e o pé na estrada, doce
ilusão...
Chegamos para assistir
o filme. Cinema vazio. Cidade chuvosa. Noite fria. Sala fria. Expectativa
grande...
Logo nas primeiras
cenas, o filme já havia me tomado, amo esse jogo de passar de tempo, parece
(PA-RE-CE) que as ordens dos acontecimentos não importam, mas o importante é o
acontecimento em si. Amo isso, a vida é assim, as marcas são, na maioria das
vezes, deixadas pelo acontecimento, não pelo momento em que ocorreu. Em pouco
menos de 5 min, pude ver a história do encontro amoroso entre Didier e Eliser (Johan Heldenbergh e Veerle Baetens),
pude ver que existia um outro elemento no filme, que não era a viagem e sim a
pequena e linda Maybelle (Nell
Cattrysse) que estava diagnosticada com leucemia aos sete anos de idade.
Confesso que a doença de Maybelle no filme me fez balançar em
relação ao mesmo, pois histórias de câncer me tocam de uma maneira que, se eu
soubesse que o filme tratava disso, provavelmente eu não iria vê-lo. Teve um momento
em que até ensaiei uma espécie de desculpa ao meu amigo “nossa!!! Não imaginava
que o filme tratava sobre isso”. Lembrem lá no início quando disse que o filme
era a cara dele? Pois é, um filme em que se passa boa parte dentro de um
hospital com uma criança de sete anos perdendo os cabelos e vomitando, não pode
ser a cara de ninguém, não é mesmo? Porém, a música estava lá, presente a todo
o momento e muito envolvente, uma mistura de música folk irlandesa, americana,
norueguesa (ao menos foi que me pareceu – desconsiderem essa informação).
O segundo choque do
filme veio um pouco depois da metade, Maybelle morre. Não imaginei (ilusão
pura) que aconteceria isso, na minha cabeça ela iria se curar e eles viveriam
felizes para sempre viajando em seu trailer e cantado pelas estradas. Não, não
foi isso que aconteceu (ainda bem), com a morte de Maybelle surgiu uma
discussão (meu segundo desconforto no filme) fé e ciência. Células troncos,
clones de embriões, até onde podemos chegar? Até onde a fé, religião, crença em
um Deus criador de todo o universo pode ir? Em uma das falas de Didier o
sentido é mais ou menos esse “como a ciência não pode avançar nas pesquisas de
células troncos para salvar vidas, mas construir bombas e armas, que geram a
morte de milhares pessoas, pode?” Isso me incomodou muito mais que ver uma
menina de sete anos careca. Na hora comecei a refletir meu posicionamento
diante de vários questionamentos que tangenciam esse assunto, mas isso não vem
o caso aqui e agora.
O filme, apesar dos
choques que eu sofri, é bem envolvente. Li alguns comentários sobre e em um
deles, uma guria dizia que o filme não a surpreendeu, que era meio clichê.
Creio que possa ser, mas como fui ao cinema imaginando outra coisa, o filme me
arrebatou. Acho que é um filme que precisa ser visto, o tema é interessante, a
trilha sonora é muito boa (fiquei com as músicas na cabeça), as cenas são
lindas, as cores, eu recomendo.
Beijos ; )
@EDani_se